Terra
Após duas temporadas, Kimi Raikkonen voltou à Fórmula 1 no último domingo no Grande Prêmio da Austrália. Com ele, acaba também boa parte da mesmice da categoria. O finlandês costuma falar o que pensa e não ter o comportamento exatamente "ideal" fora da pista. Em Melbourne, já deu mostras disso ao disparar para seu engenheiro via rádio: "por que recebo toda hora bandeira azul?". "É para os pilotos que estão atrás de você, Kimi", foi a resposta, citando os retardatários.
O fim de semana na Austrália foi pródigo em pérolas de Raikkonen, especialmente na entrevista coletiva oficial da quinta-feira. "Não vi muito nos últimos anos", disse ele, questionado sobre a F1. Depois disso, um repórter insistiu e quis saber por que o piloto quis retornar ao Mundial sendo que nem tinha vontade de assistir às corridas. "Eu tinha outras coisas para fazer, isso não significa que não goste do esporte, estou feliz. Eu estava ocupado fazendo outras coisas".
O finlandês, 32 anos, estreou na F1 em 2001, foi campeão em 2007 pela Ferrari e sempre disse que não tinha ídolos na categoria. Na mesma entrevista em Melbourne, ele afirmou que o cenário continua o mesmo na volta à elite do automobilismo após passar dois anos no Campeonato Mundial de Rali (WRC). "Ainda não tenho um! Claro que eu esperava bons resultados dos finlandeses, mas realmente eu não... não fazia diferença quem ganhasse. Não havia alguém em que eu estava me espelhando".
No início de março, Raikkonen participou do programa Top Gear, com auditório, na rede britânica BBC e, questionado se havia mudado a preparação para voltar à F1, minimizou: "(treinamento) um pouco mais duro que o normal, deve ser OK". O entrevistador lhe perguntou também se ele havia parado de beber. "Não", respondeu, provocando risos na plateia.
Na mesma entrevista, Raikkonen falou também sobre o prazer em pilotar motos na neve. Mas será que o contrato dele com a Ferrari, rompido em 2010 para a contratação de Fernando Alonso, permitia a diversão na neve? "Eu não perguntava a eles. Era um contrato bem rígido, mas contanto que você não se machucasse, tudo bem". Antes do último Natal, ele lesionou o punho direito fazendo justamente isso. Quebrou o braço? "Um pouco", respondeu. "Eu tinha um bom médico para consertar, então...".
Raikkonen só reestreou na F1 em Melbourne, mas no início de fevereiro já pilotava para a Lotus nos testes da pré-temporada. Questionado sobre uma das novidades do campeonato, que em 2011 passou a contar com o DRS (sistema de abertura de asa móvel) nos veículos, o finlandês ironizou, chamando, à revista alemã Auto Motor und Sport, o equipamento de "um pouco ridículo". Ele disse que "ultrapassar não é mais uma arte" visto que agora "você abaixa a asa e passa facilmente".
Em fevereiro, o finlandês negou que estivesse desmotivado em seu último ano de Ferrari, no qual foi o sexto colocado do Mundial. Ele disse à revista inglesa F1 Racing que "não é falta de motivação se seu carro é uma m... e nem se você dirige no seu melhor nível consegue um bom resultado". Em novembro, falando com a mesma publicação, o piloto havia se esquivado dos rumores que garantiam o seu retorno à F1 afirmando que com uma "m... de carro você não pode ganhar".
Há um episódio em que nenhuma declaração precisa ser colocada para retratar bem Raikkonen. Durante o GP da Malásia de 2009, uma chuva torrencial interrompeu a prova, que se tornou a quinta na história da F1 a ter sua pontuação reduzida pela metade, visto que não foi disputada em pelo menos 75% - os pilotos só fecharam 31 das 56 voltas previstas. Enquanto todos os competidores aguardavam no cockpit, as imagens oficiais mostraram o finlandês tomando um picolé nos boxes da Ferrari.
Em três anos de Ferrari, Raikkonen sempre negou que pretendesse aprender a falar italiano, concedendo entrevistas e se comunicando com o time em inglês. Essa situação não mudou nem em 2008, quando ele já havia sido campeão do mundo pela equipe e disse no GP da Turquia que não aprenderia a língua porque "não gosta de estudar". Atuais pilotos da escuderia, o brasileiro Felipe Massa e o espanhol Fernando Alonso são fluentes no idioma.
O finlandês realmente nunca fez questão de parecer muito simpático diante da imprensa italiana. Em uma entrevista à emissora Mediaset, ele teve de responder perguntas como "o que você leva em sua mochila?" e "quanto dinheiro você costuma levar na carteira?". Quando questionado sobre o "momento mais emocionante em um fim de semana de corrida", ele afirmou: "acho que a largada, sempre". E qual o "momento mais chato?". "Agora", respondeu, com um sorriso.
Após vencer o Grande Prêmio da Malásia, em 2008, Raikkonen não teve dúvidas em reclamar de uma tradição antiga da Fórmula 1, dizendo que durante a comemoração no pódio teve os olhos atingidos pelo banho de champagne dos colegas. "Nós deveríamos colocá-lo na boca, não no olho", disse.
Em 2007, Raikkonen assumiu a vaga de Michael Schumacher na Ferrari e virou parceiro do brasileiro Felipe Massa. Durante os testes da pré-temporada naquele ano, o alemão chegou a estar presente como consultor. O chefe Jean Todt afirmou que o ex-piloto poderia ser útil na adaptação do finlandês à equipe, mas este negou, dizendo que não conversava com o heptacampeão mundial havia mais de um mês e que não via necessidade de pedir-lhe ajuda.
Uma das cenas mais engraçadas envolvendo Raikkonen aconteceu no GP do Brasil de 2006. Antes da que seria a sua última corrida na Fórmula 1, o alemão Michael Schumacher recebeu, como homenagem dos organizadores, um troféu de Pelé. Todos os pilotos estavam presentes na cerimônia, menos o finlandês. Encontrado pela reportagem da ITV a seguir, Kimi justificou a ausência afirmando que se encontrava no banheiro: "eu estava c...".
Um dos vídeos mais marcantes de Raikkonen no YouTube não mostra ele vencendo uma corrida ou ganhando um Mundial. Nele, o finlandês aparece andando sobre um iate e caindo, provavelmente por estar bêbado. Em entrevista à revista Red Bulletin, ele não viu grandes problemas e disse que assistiu "provavelmente a todos" os seus clipes postados no site. Ele acrescentou ainda que há muitas outras histórias suas que não foram parar na rede -o que "é uma boa coisa".
Uma das maiores "lendas" envolvendo Raikkonen nos bastidores da F1 é que ele teria sido visto dormindo no motorhome 30 minutos antes de estrear na categoria pela Sauber, em Melbourne, em 2001. No programa Top Gear, Raikkonen confirmou a história - em partes. "Não foi no motorhome. Eu encontrei um lugar legal embaixo de uma mesa. É normal, sempre durmo antes das corridas, há um pouquinho de tempo. Eu gosto de dormir".
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