Uol Esporte
Em uma suíte do sexto andar de um hotel de luxo da Zona Sul de São Paulo, jornalistas de pelo menos sete veículos diferentes se amontoaram no final da tarde de quinta-feira para esperar por um encontro com Kimi Raikkonen. O campeão mundial de 2007 estava em outro quarto no mesmo andar, pronto para fazer o que menos gosta. Na próxima hora, ele teria que atender um por um e responder às mesmas perguntas mais de uma vez.
Enquanto isso, seus companheiros de Lotus, Romain Grosjean e Jerome D’Ambrosio, ficavam apenas ouvindo ao seu lado, sentados no mesmo sofá com vista para o trânsito parado da Marginal Pinheiros. A cada pergunta para Kimi, os dois reagiam com uma risada, uma sobrancelha levantada, um olhar franzido. O Homem de Gelo se limitava a responder em voz baixa e, mesmo sendo o centro das atenções, não mudava sua expressão de quem estava apenas esperando até aquilo tudo acabar e voltar para o seu quarto.
Mas ele não se livraria assim tão cedo. Depois de atender a imprensa, haveria outro compromisso de outro patrocinador, e assim por diante. Raikkonen nunca escondeu que trabalhar longe das pistas não é a sua. Até mesmo dentro da pista ele tem seus momentos de mau humor, como ficou comprovado com o célebre “Me deixe em paz” no rádio da equipe durante sua vitória no GP de Abu Dhabi.
Os assessores de imprensa da Lotus até avisaram que ele não estava em um bom dia, mas na verdade lá estava o Kimi de sempre, com a mesma expressão de quem aprecia um picolé durante a bandeira vermelha de um GP. Ele mesmo fez questão de dizer que nunca mudou, apesar de seus dois anos longe da Fórmula 1, disputando o Mundial de Rali.
No Brasil, ele volta ao palco de seu único título, devidamente comemorado com uma maratona de baladas em São Paulo naquele outubro de 2007. Desta vez, ele não tem mais chances de ser campeão. E nem teve chances de escapar dos compromissos da quinta-feira de GP do Brasil. Ao UOL Esporte, o finlandês de 33 anos falou sobre a sua readaptação ao circuito e rejeitou o rótulo de personagem mais carismático da Fórmula 1: “Não estou na Fórmula 1 para agradar as pessoas, estou lá porque eu quero”.
Você comemorou bastante sua vitória em Abu Dhabi, a primeira da Lotus. Está mais feliz na Fórmula 1 agora do que antes de seu afastamento?
Eu sempre gostei de correr. Sempre disse que não sou muito fã do circo da Fórmula 1, da política e essas coisas. Mas, na pista, não mudou muito. É uma equipe diferente, com pessoas diferentes, mas não está nem melhor nem pior.
A proibição dos palavrões e as investigações depois das ultrapassagens são exemplos do lado chato da Fórmula 1?
Isso faz parte da Fórmula 1. Mudou um pouco nos últimos anos nesse sentido, acho que muitos esportes mudaram. Pode ter ficado mais chato, mas a essência ainda está lá. Claro há menos recursos para poder lutar mais dentro da pista, mas são regras e temos que respeitá-las.
Você tem um comportamento diferente dos outros pilotos. Acha que a Fórmula 1 precisa de mais personagens como você?
Não, eu faço as minhas coisas e não me importo com o que os outros pensam. Não estou na Fórmula 1 para agradar as pessoas, estou lá porque eu quero. Podem gostar ou não, mas isso não muda nada.
O que você tem a dizer sobre Felipe Massa, seu ex-companheiro, que acaba de renovar o contrato com a Ferrari? Como é sua relação com ele?
É boa, eu torci por ele quando infelizmente houve aquele grande acidente.
Você se lembra de alguma festa aqui em São Paulo quando foi campeão cinco anos atrás?
Foi uma noite boa, eu queria comemorar. Festas são normais. Como era a última corrida, tivemos algumas horas a mais. Aproveitei bastante, foi bom.
Você pensa em aposentadoria? O que você pensa em fazer depois de parar de correr?
Não tenho planos quanto a isso, tenho mais um ano de contrato, vou cumpri-lo e então vamos ver.
Você às vezes sente que precisa aprender a lidar com as exigências dos patrocinadores?
Bom, como já disse, não é a minha parte preferida, então... Mas claro que os patrocinadores são importantes, sem eles não estaríamos correndo, e então nada aconteceria.
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